segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Esmeraldo de situ orbis

Esmeraldo de situ orbis é o título de um manuscrito escrito para 1506 pelo militar, navegante e cosmógrafo português Duarte Pacheco Pereira. Dedicada ao rei Manuel I de Portugal (1495-1521), trata-se de uma obra de "cosmografía e marinería", segundo palavras do próprio autor. Apesar de seu título em latín, foi escrita em língua portuguesa]]. Não se conserva o manuscrito original mas sim duas cópias: uma da primeira metade do século XVIII achada na cidade de Évora e outra algo posterior da Biblioteca Nacional de Lisboa. A partir delas se preparou a primeira edição impressa do texto, em 1892 No prólogo Duarte Pacheco anuncia que a obra consta de cinco "livros" ou partes mas os manuscritos conservados só contêm os três primeiros e um fragmento do quarto. Perderam-se ademais todos os mapas e ilustrações que acompanhavam ao manuscrito original.


Conteúdo

Prólogo
Livro primeiro
  • Capítulos 1 ao 12: Cosmografía e navegação. Inclui, no capítulo 7, uma tabela com as latitudé de numerosos lugares.
  • Capítulos 13 ao 21: Descrição geográfica da costa norteafricanas.
  • Capítulos 22 ao 33: Descrição da costa descoberta na época do infante Enrique o Navegante.
Livro segundo
  • Capítulos 1 ao 11: Descrição das terras descobertas por ordem do rei Alfonso V.
Livro terceiro
  • Capítulos 1 ao 9: Descrição das terras descobertas durante o reinado de Juan II.
Livro quarto
  • Capítulos 1 ao 6: Descrição das terras descobertas durante o reinado de Manuel I.
O manuscrito interrompe-se bruscamente no meio do capítulo 6 do livro quarto. No entanto, o prólogo anuncia que a obra consta de cinco livros dos quais o quarto e quinto se dedicam a cobrir as descobertas do reinado de Manuel I.

Possível viagem portuguesa a América em 1498

No capítulo 2 do primeiro livro, Duarte Pacheco expõe sua particular teoria cosmográfica de que nosso planeta está coberto essencialmente por terra continental, formando o oceano (principalmente o Atlántico e o Índico) um lago fechado rodeado de terra por todas partes. Em seu argumentación afirma que a "terra firme" que hoje se conhece como América se encontra a uns 36 graus de longitude (cartografía)|longitude]] ao oeste da Europa]] e África e se estende ao menos entre as latitudé 70º norte e 28,5º sul sem que se tenha visto o final por nenhum de ambos extremos. Isso lhe leva a supor que América se estende até ambos pólos e que por ali está unida ao Velho Mundo, formando um único continente universal.
Neste mesmo bilhete o autor afirma também, quase de passagem, que o rei Manuel I lhe ordenou realizar em 1498 uma viagem de descoberta a essas terras ao ocidente do oceano Atlántico, se encontrando a 28º de latitud sul "muito e fino brasil", madeira muito cotada naquela época.
Temos sabido & visto como não terceiro anno de vosso Reynado do hano de nosso Senhor de mil quatrocentos noventa & oito, onde nos vossa alteza mandou descobrir tem parte oucidental passando alem tem grandeza do mar ociano onde tenho hachada & navegada huma tam grande terra firme, com muitas e grandes Ilhas ajacentes a ela, que se estende a satenta graaos de Ladeza dá linha equinocial contra ho pólo artico & posto que seja asaz fora tenho grandemente pavorada, & do mesmo circolo equinocial torna outra vez & vay alem em vinte & oito graaos & meo de ladeza contra ho frango antratico & tanto se dilata sua grandeza & corre com muita longuura que de huma parte nem dá outra nem foy visto nem sabido ho fim & cabo della pello qual segundo tem hordem que leva tenho certo que vay em cercoyto por toda a Redondeza, asim que temos sabido que dás prayas & costa do mar destes Reynos de Portugal & do promontório de finis terra & de qualquer outro lugar dá europa & dafrica & dasia hatravesando alem todo ho oceano direitamente tem oucidente ou tem loest segundo hordem de marinharia por trinta & seis graaos de longura que seram seiscentas & quarenta & oyto leguoas de caminho contando tem desouto leguoas por graao, & tem luguares algum tanto mais lonje tenho hachada esta terra nom navegada pellos navios de vossa alteza & por vosso mandado e licença vos dois vossos vassallos & naturaes; & findo por esta costa sobredita do mesmo circulo equinosial em diante per vinte & oyto graaos de ladeza contra ou frango antartico tenho hachado nella munto e fino brazil com outras muitas couzas de que vos navios nestes Reynos vem grandemente carregados.
Livro I, capítulo 2.[3]
Estas linhas de texto têm dado lugar a numerosas interpretações diferentes sobre se Duarte Pacheco ou algum outro português realizou realmente uma viagem de exploração em 1498 e sobre que terras visitou. Luciano Pereira dá Silva e outros autores afirmam que Pacheco descobriu a costa do actual Brasil nesta viagem; outros como Duarte Leite acham que foi Flórida o que explorou e algum como Carlos Coimbra nega que fosse Pacheco o chefe da expedição.[4]

Referências

  1. a b KIMBLE}). }} «The "Esmeraldo de Situ Orbis": An Early Portuguese Textbook on Cosmography and Navigation» (em idioma}).
    }} Osiris. Vol. 33. pp. 88-102. Consultado o 11/10/2009.
  2. AZEVEDO BASTO nome = Rafael Eduardo de}) }}. Esmeraldo de situ orbis (Notícia preliminar) (em idioma}) }}. Lisboa: Imprensa Nacional, pp. II.
  3. Transcripción copiada da pág.7 da primeira edição impressa da obra (Lisboa, 1892)
  4. DIFFIE; WINIUS, George Davison}) }}. Foundations of the Portuguese empire, 1415-1580, 2 edição (em idioma}) }}, University of Minnesota Press, pp. 450-452. ISBN 978-0816607822.


1498 - DESCOBRIMENTO DO BRASIL

A revista Isto É publicou em 19 de novembro de 1997, matéria intitulada “O verdadeiro Cabral”, assinada pelo jornalista Guilherme Evelin, na qual o autor procura demonstrar que o descobrimento do Brasil ocorreu em data anterior a 22 de abril de 1500, conforme é ensinado nas escolas. Seu texto, encimado pelo subtítulo “Na véspera das comemorações dos 500 anos do descobrimento, novas pesquisas revelam que Portugal mandou uma missão secreta ao Brasil, um ano e meio antes da chegada de Cabral”, diz o seguinte:

          “Esqueça tudo o que você aprendeu na escola sobre o descobrimento do Brasil. O primeiro português a vir às terras brasileiras não foi Pedro Álvares Cabral, ao contrário do que até hoje ensinam os manuais de história. O primeiro torrão de solo tupiniquim avistado pelos portugueses também não foi o Monte Pascoal, no sul da Bahia. O primeiro contato dos europeus com a terra brasilis tampouco ocorreu em 22 de abril de 1500. A dois anos das comemorações oficiais pelos 500 anos do descobrimento do Brasil, os últimos trabalhos de pesquisadores portugueses, espanhóis e franceses revelam uma história muito mais fascinante e épica sobre a chegada dos colonizadores portugueses ao Novo Mundo”.

          “O primeiro português a chegar ao Brasil foi o navegador Duarte Pacheco Pereira, um gênio da astronomia, navegação e geografia e homem da mais absoluta confiança do rei de Portugal, d. Manoel I. Duarte Pacheco descobriu o Brasil um ano e meio antes de Cabral, entre novembro e dezembro de 1498. O primeiro português a confirmar que existiam terras para lá do Oceano Atlântico desembarcou aqui num ponto localizado nas proximidades da fronteira do Maranhão com o Pará. De lá, iniciou uma viagem pela costa norte, indo à ilha do Marajó e à foz do rio Amazonas. Quando regressou a Portugal, o rei ordenou-lhe que a expedição deveria ser mantida em sigilo. O motivo para que a descoberta fosse tratada como segredo de Estado era bastante simples: as terras encontravam-se em área espanhola, de acordo com a divisão estabelecida pelo famoso Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, quatro anos antes de Duarte Pacheco chegar à Amazônia”.

          Após tecer considerações sobre o assunto, o redator da matéria esclarece:

          “A base da tese gira em torno de um manuscrito, o "Esmeraldo de situ orbis", produzido pelo próprio Duarte Pacheco entre 1505 e 1508 e que ficou desaparecido por quase quatro séculos. Até no título, o documento revela seu caráter cifrado. "Esmeraldo" é um anagrama que associa as iniciais, em latim, dos nomes de Manoel (Emmanuel), o rei, e Duarte (Eduardus), o descobridor. "De situ orbis" significa "Dos sítios da Terra". "Esmeraldo de situ orbis", portanto, era "O tratado dos novos lugares da Terra, por Manoel e Duarte". Era um imenso relato das viagens de Duarte Pacheco Pereira não só ao Brasil, como à costa da África, principal fonte da riqueza comercial de Portugal no século XV. O rei d. Manoel I considerou tão valiosas as informações náuticas, geográficas e econômicas do "Esmeraldo" que jamais permitiu que ele fosse tornado público. Foi montado em cinco partes, com 200 páginas no total. As melhores provas sobre o descobrimento do Brasil aparecem no capítulo segundo da primeira parte. Resumidamente, o trecho diz o seguinte: "Como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados."

          A reportagem diz ainda que:

          “As novas pesquisas sobre a verdadeira história do descobrimento sepultam definitivamente a inocente versão ensinada nas escolas de que Cabral chegou ao Brasil por acaso, depois de ter-se desviado da sua rota em direção às Índias. O trabalho dos historiadores, dos antropólogos e cartógrafos, dá cores e tons muito mais fortes à epopéia do descobrimento. Até consolidar sua presença nessa – até então – desconhecida parte do mundo, portugueses e espanhóis se envolveram num fascinante jogo de traição, espionagem, blefes e chantagens. O mais recente trabalho a sustentar que Duarte Pacheco foi o verdadeiro responsável pelo descobrimento foi publicado no ano passado em Portugal. Intitulado “A construção do Brasil”, é de autoria do historiador português Jorge Couto, 46 anos, professor da Universidade de Lisboa. Couto é considerado o principal especialista português em história do Brasil e seu livro recebeu a chancela oficial da comissão criada pelo governo lusitano para as comemorações dos descobrimentos. Ele só deverá chegar às livrarias brasileiras em 1998”. 


FONTE: Recanto das Letras

quarta-feira, 3 de novembro de 2010


Lições mais antigas de História contavam que a frota de 13 caravelas de Pedro Álvares Cabral, que deixou Portugal em meados de março de 1500, em direção às Índias, surpreendeu-se com uma terra de vastos arvoredos e um imponente monte, no dia 22 de abril do mesmo ano, há exatamente 510 anos.

No entanto, o anúncio de que navegadores europeus haviam encontrado mais um grande continente do outro lado do Oceano Atlântico, na verdade, foi a oficialização da posse de Portugal sobre as terras que viriam a ser o Brasil.

É consenso atual entre os historiadores brasileiros que a Ilha de Vera Cruz, depois rebatizada de Terra de Santa Cruz, não foi descoberta por acidente pela esquadra de Cabral.

O professor de história Roberto Marcelo Caresia, do Departamento de Educação da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), frisa que os portugueses eram os navegadores mais experientes da época e já exploravam a costa africana desde o início do século 15, inclusive com a realização de diversas expedições extra-oficiais.

“Caso se possa pensar em ‘descoberta por acidente’ do Brasil, ela pode ter acontecido por volta de 1475, e não em 1500, quando (os portugueses) navegavam próximo a uma região do Atlântico com ventos favoráveis a oeste”, afirma Caresia, que é mestre em história cultural.

A frota comandada por Cabral, com 13 caravelas, era a maior já reunida até então. Segundo o professor da UNINOVE, os navegadores zarparam com o objetivo de chegar às Índias. Entretanto, há provas de que o desvio de rota foi proposital para que Portugal tomasse posse das terras já conhecidas.

Tratados e segredos

Caresia lembra que Cristóvão Colombo (foto) havia trabalhado para Portugal por mais de dez anos, antes de oferecer seus serviços à Espanha, por volta de 1490. Quando o navegador retornou das Antilhas, em 1492, ele teve um encontro sigiloso com o rei de Portugal. Logo em seguida, quatro caravelas portuguesas partiram na mesma direção de onde viera Colombo. O professor completa que há vários indícios de que o descobridor da América, na verdade, era um espião trabalhando para Portugal.

Entre 1492 e 1494, foram firmados seis tratados, ou Bulas Papais, até se chegar ao Tratado de Tordesilhas, que dividia as terras “descobertas e por descobrir” fora da Europa entre os reinos de Portugal e Espanha.

Caresia destaca que o principal representante do rei português para a questão dos tratados era o cartógrafo, astrônomo e navegador Duarte Pacheco Pereira. “Reconhece-se hoje, inclusive pela historiografia portuguesa, que ele esteve em viagem sigilosa pelas costas brasileiras em 1498, por meio de seu relato ‘Esmeraldo de Situ Orbis’. O mesmo esteve ainda na frota de Cabral, em 1500, na Tomada Oficial de Posse”, explica o professor.

No entanto, nem mesmo Duarte Pacheco Pereira pode ser considerado o responsável pelo “verdadeiro descobrimento” do Brasil, pois há diversos indícios de que outros exploradores pisaram em terras tupiniquins antes de 1498.

Muito antes dos europeus

“É um tanto constrangedor falar hoje em ‘descobrimento do Brasil’ pelos europeus, quando sabe-se que havia aqui uma imensa população indígena oriunda de outros continentes há milhares de anos”, provoca o professor da UNINOVE.

Ele enumera diversas histórias e lendas de navegadores que exploraram o que havia além do Velho Mundo, de fenícios da Antiguidade e vikings do período medieval a irlandeses e até mesmo chineses, ainda que não tenham deixado nenhuma marca pela América.

“Há relatos muito comprobatórios e controversos de uma expedição chinesa em 1422, mas que também nada fez ou deixou aqui. Espanhóis, com certeza, passaram aqui antes de 1500, e disso há provas, mas também não tomaram posse. Ou seja, eram apenas expedições de exploração, sem intuito de formar colônias, postos avançados ou feitorias, apenas para reconhecimento de território e de rotas navegáveis”, explica Caresia.

“Como havia muita disputa entre Portugal e Espanha, muito disso era em sigilo e extra-oficial, ou seja, com pouca ou nenhuma documentação além de algumas cartas particulares”, completa.

Para o professor de história, não restam dúvidas de que os primeiros habitantes do continente americano foram os povos vindos da Ásia e da Oceania, há milhares de anos. “Se alguém ‘descobriu’ o Brasil, foram, sem dúvida, esses primeiros povos dos quais desconhecemos os nomes, mas seus remanescentes são os vários povos indígenas brasileiros”, finaliza.

O Descobrimento: O verdadeiro Cabral


Uma das perguntas mais triviais e até infantis que se pode fazer é "Quem descobriu o Brasil?"
A resposta seria mais simples ainda, foi Pedro Alvares Cabral, Certo?

Errado. O primeiro português a vir às terras brasileiras não foi Pedro Álvares Cabral, ao contrário do que até hoje ensinam os manuais de história. O primeiro pedaço de solo tupiniquim avistado pelos portugueses também não foi o Monte Pascoal, no sul da Bahia. O primeiro contato dos europeus com a terra brasilis muito pouco ocorreu em 22 de abril de 1500.

Recentes trabalhos de pesquisadores portugueses, espanhóis e franceses revelam uma história muito convincente sobre a chegada dos colonizadores portugueses ao Novo Mundo. O primeiro português a chegar ao Brasil foi o navegador Duarte Pacheco Pereira, um gênio da astronomia, navegação e geografia e homem da mais absoluta confiança do rei de Portugal, D. Manoel I. Duarte Pacheco descobriu o Brasil um ano e meio antes de Cabral, entre novembro e dezembro de 1498. O primeiro português a confirmar que existiam terras além do Oceano Atlântico desembarcou aqui num ponto localizado nas proximidades da fronteira do Maranhão com o Pará. De lá, iniciou uma viagem pela costa norte, indo à ilha do Marajó e à foz do rio Amazonas. Quando regressou a Portugal, o rei ordenou-lhe que a expedição deveria ser mantida em sigilo. O motivo para que a descoberta fosse tratada como segredo de Estado era bastante simples: as terras encontravam-se em área espanhola, de acordo com a divisão estabelecida pelo famoso Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, quatro anos antes de Duarte Pacheco chegar à Amazônia.

As novas pesquisas sobre a verdadeira história do descobrimento acabam definitivamente a inocente versão ensinada nas escolas de que Cabral chegou ao Brasil por acaso, depois de ter-se desviado da sua rota em direção às Índias.
O QUE PROVA TAIS AFIRMAÇÕES ?
Até consolidar sua presença nessa - até então - desconhecida parte do mundo, portugueses e espanhóis se envolveram num fascinante jogo de traição, espionagem, blefes e chantagens. O mais recente trabalho a sustentar que Duarte Pacheco foi o verdadeiro responsável pelo descobrimento foi publicado no ano de 1996, em Portugal. Intitulado A construção do Brasil, é de autoria do historiador português Jorge Couto, 46 anos, professor da Universidade de Lisboa.

A base da tese gira em torno de um manuscrito, o "Esmeraldo de situ orbis", produzido pelo próprio Duarte Pacheco entre 1505 e 1508 e que ficou desaparecido por quase quatro séculos. Até no título, o documento revela seu caráter cifrado. "Esmeraldo" é um anagrama que associa as iniciais, em latim, dos nomes de Manoel (Emmanuel), o rei, e Duarte (Eduardus), o descobridor. "De situ orbis" significa "Dos sítios da Terra". "Esmeraldo de situ orbis", portanto, era "O tratado dos novos lugares da Terra, por Manoel e Duarte". Era um imenso relato das viagens de Duarte Pacheco Pereira não só ao Brasil, como à costa da África, principal fonte da riqueza comercial de Portugal no século XV. O rei D. Manoel I considerou tão valiosas as informações náuticas, geográficas e econômicas do "Esmeraldo" que jamais permitiu que ele fosse tornado público. Foi montado em cinco partes, com 200 páginas no total. As melhores provas sobre o descobrimento do Brasil aparecem no capítulo segundo da primeira parte. Resumidamente, o trecho diz o seguinte:
O documento era, de fato, tão precioso que uma cópia foi contrabandeada em 1573 para a Espanha por um espião italiano, Giovanni Gesio.Depois que o espião pirateou um exemplar para a Espanha, alguns historiadores começaram levantar a hipótese da vinda de Duarte Pacheco ao Brasil antes de Cabral. O peso da visão tradicional da história e a linguagem enigmática da passagem referente à viagem de 1498 contribuíram, porém, para que essa fosse considerada, até agora, uma versão fantasiosa. Para sustentar a sua tese, Jorge Couto cruzou dados sobre as relações políticas entre Portugal e Espanha em 1498, debruçou-se sobre interpretações minuciosas do "Esmeraldo" e dos mapas da época, estudou os métodos usados no final do século XV para calcular a longitude e recorreu a relatos históricos sobre as antigas populações indígenas da Amazônia e aos resultados das recentes pesquisas feitas pela arqueóloga americana Anna Roosevelt em Santarém e na ilha do Marajó, no Pará.

Em Portugal, o livro de Jorge Couto tornou-se uma referência obrigatória. Entre os principais historiadores portugueses, não há dúvidas de que Duarte Pacheco chegou ao Brasil antes de Cabral", menciona José Manoel Garcia, pesquisador português especializado em História dos Descobrimentos. "A viagem de Cabral continua a ser considerada o descobrimento oficial do Brasil apenas por uma questão de tradição e de comodidade." Não é só em Portugal que Duarte Pacheco é reconhecido como o responsável pelo descobrimento do Brasil. O espanhol Juan Gil, da Universidade de Sevilha, e o francês Serge Gruzinski, do Centre Nationale de Recherches Scientifiques, também fazem essa afirmação em trabalhos publicados, respectivamente, em 1989 e 1992, mas sem a requeza de tantas evidências e provas como Jorge Couto.
1498: GUARDE BEM ESTE ANO...

Em outubro de 1498, o rei português D. Manoel I viu frustradas as suas ambições de subir também ao trono da Espanha, depois que morreu sua mulher, dona Isabel, filha dos reis católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Perdeu assim sentido a política de boa vizinhança que ele vinha desenvolvendo com os espanhóis. D. Manoel I resolveu, então, mandar uma expedição para descobrir terras na "parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano". A parte ocidental era onde ficavam as terras descobertas pelos espanhóis nas Américas, na primeira expedição comandada por Cristóvão Colombo em 1492. O mar Oceano era como os portugueses chamavam o Oceano Atlântico. A expedição deveria também determinar, no local, a linha imaginária traçada pelo Tratado de Tordesilhas para funcionar como marco divisório dos domínios portugueses e espanhóis no mundo. Para a missão, d. Manoel I escalou o melhor homem que tinha à disposição. Duarte Pacheco era um exímio navegador, como tinha demonstrado na costa da África, era da sua total confiança e, o mais importante, tinha sido um dos conselheiros técnicos de Portugal nas negociações do Tratado de Tordesilhas.Após ter recebido as ordens do rei, Duarte Pacheco zarpou, em novembro de 1498, do arquipélago de Cabo Verde, na costa da África, em direção à linha do Equador. Os historiadores ainda não encontraram evidências para confirmar se ele partiu com apenas uma ou com duas caravelas. Navios de pequeno porte, elas eram usadas em expedições de exploração. Para ocupar territórios, os portugueses e espanhóis usavam naus e galeões, navios maiores, com grande capacidade de carga. Duarte Pacheco continuou navegando para o Sul até que avistou terra na região que hoje é fronteira entre o litoral do Maranhão e do Pará. A partir desse ponto, favorecido pela corrente marítima das Guianas, Duarte Pacheco não teve dificuldades para iniciar uma viagem pelo litoral brasileiro que foi até a Ilha do Marajó e a foz do rio Amazonas.
DUARTE PACHECO PEREIRA NO BRASIL

Durante o trajeto, Duarte Pacheco encontrou populações compostas de homens "pardos quase brancos". Essas eram justamente as características físicas dos índios aruaques que dominavam a orla marítima do Norte do Brasil. Os estudos da arqueóloga Anna Roosevelt comprovaram que toda essa região era habitada por populações indígenas com alta densidade demográfica e que criaram na ilha do Marajó uma sociedade complexa, de escala urbana e produtora de um artesanato até sofisticado, como a célebre cerâmica marajoara. Isso explicaria a referência de Duarte Pacheco ao Brasil como uma "terra grandemente povoada".

Embora não haja comprovação de que o navegador português tenha rezado também a primeira missa do Brasil em solo amazônico, existem indícios. Há relatos de navegadores espanhóis que teriam encontrado uma grande cruz na região da foz do Amazonas. Na volta a Portugal, os resultados da expedição foram mantidos sob absoluto sigilo. Uma cláusula do Tratado de Tordesilhas obrigava Portugal e Espanha a comunicarem ao outro reino as ilhas e terras descobertas em domínios alheios. Ora, todas as terras descobertas ficavam na área dos espanhóis. O rei d. Manoel I, que não tinha mais como subir ao trono espanhol, calou para não dar munição de graça aos concorrentes. O silêncio sobre a expedição de Duarte Pacheco foi apenas mais um golpe baixo na feroz competição que portugueses e espanhóis travavam no final do século XV. Na luta pela hegemonia na Península Ibérica e para ver quem primeiro descobriria o caminho das ricas especiarias das Índias, Portugal e Espanha.
VOLTA DE PACHECO A PORTUGUAL: GLÓRIA E MORTE
Depois da expedição à costa brasileira em 1498, Duarte Pacheco foi para a Índia entre 1503 e 1505. Lá, cobriu-se de glória ao derrotar em sucessivas batalhas, com poucas centenas de soldados, milhares de inimigos comandados pelo rei da cidade indiana de Calecut. Na volta a Portugal, Duarte Pacheco ganhou uma recepção triunfal do rei d. Manoel, que lhe concedeu a raríssima honra de o colocar ao seu lado na procissão comemorativa que percorreu as ruas de Lisboa.

Depois da subida ao trono português de d. João III, Duarte Pacheco, por ser integrante de um grupo político muito próximo a d. Manoel, caiu em desgraça. Foi preso sob a acusação, aparentemente caluniosa, de contrabando de ouro na África e ficou meses encarcerado em Lisboa. Mais tarde, foi reabilitado, mas morreu em 1533 na pobreza e totalmente afastado das decisões políticas.

ONDE FICA PEDRO ALVARES CABRAL NESTA HISTÓRIA
A maior parte dos hstoriadores que pesquisam o descobrimento, são unanimes ao dizer que o "descobridor" oficial do Brasil compõe uma pálida figura. Cabral não entendia quase nada de navegação, mas era oriundo da média nobreza - teve a sorte de casar com uma das herdeiras de uma das famílias mais ricas do reino. Foi assim que conseguiu ser escalado para comandar a maior armada que Portugal já montara. Pela quantidade de homens e naus, a expedição de Cabral é mais uma prova de que os portugueses vinham para tomar posse do Brasil e usá-lo como base de apoio da rota para as Índias. Ele partiu do rio Tejo, em Lisboa, com cerca de 1,5 mil homens e 13 embarcações (nove naus, três caravelas e uma naveta de mantimentos). Apenas para comparação: quando chegou às Índias em 1498, Vasco da Gama viajou com apenas três embarcações. Oficialmente, a missão de Cabral era estabelecer uma feitoria comercial na cidade de Calecut. Esse era o motivo da presença na expedição de Pero Vaz de Caminha - o autor da "certidão de nascimento" do Brasil seria um dos escrivães de despesa (uma espécie de contador) do entreposto comercial a ser criado na Índia. Os portugueses acreditavam que o Brasil se encontrava mais próximo do Sul da África do que realmente está. Após a viagem de Cabral, perceberam o erro e só partiram para a ocupação do Brasil 30 anos depois.Portanto o ano de 1500 marca para a História do Brasil o surgimento das bases da colonização portuguesa, e nunca o descobrimento do Brasil.

NADA ACONTECE POR ACASO, NEM O DESCOBRIMENTO DO BRASIL
Entre os historiadores, é quase consensual que Cabral partiu de Portugal com instruções secretas do rei d. Manoel para chegar às terras já descobertas por Duarte Pacheco. Em 1979, o comandante Max Justo Guedes fez sobrevôos na costa de Porto Seguro (BA), na altura da gávea da nau de Cabral para verificar as condições de navegação em que foi avistado o Monte Pascoal, em 22 de abril de 1500. Na carta de Caminha, ele é descrito como um monte cônico com "serras mais baixas ao sul dele". Segundo o estudo, esta visão do morro só ocorre quando se navega de Sul para Oeste (como se Cabral tivesse alcançado o litoral à altura do Espírito Santo e subido em direção à Bahia), o que demonstra que ele estava em busca de terras. Se tivesse chegado ao Brasil por acaso, Cabral estaria navegando na direção Norte-Oeste. "A descoberta foi intencional", sustenta o comandante Guedes. "A tese de que Cabral chegou ao Brasil por acaso não encontra mais respaldo entre os historiadores", corrobora Laura de Mello e Souza, professora da Universidade de São Paulo (USP).

Ao alcançar Porto Seguro, a esquadra tinha 12 embarcações (uma se perdeu no caminho e depois conseguiu retornar a Portugal). Cabral ficou apenas uma semana, rumando para a segunda etapa, mas fracassou na missão de estabelecer a feitoria em Calecut. Um ataque de surpresa dos hindus, atiçados por comerciantes muçulmanos, destruiu a feitoria e massacrou vários portugueses, entre eles Caminha. Cabral voltou a Lisboa com apenas seis navios. Entrou depois em atrito com o rei e não voltou mais a comandar expedições marítimas. D. Manoel I teria justificado a decisão com o argumento de que Cabral não era "um homem com muita fortuna no mar".O que teria sido o grande feito da sua vida, o descobrimento do Brasil, só foi divulgado um ano depois que a carta de Caminha chegou a Portugal. Isso demonstra a pouca importância que os portugueses deram à expedição de Cabral - mais um indício de que se tratava, realmente, da segunda viagem ao Novo Mundo. Quando comunica o fato aos reis espanhóis, d. Manoel I, cinicamente, o atribui a um ato milagroso. Até recentemente, a casa que pertencera à família de Cabral, em Santarém, cidade portuguesa onde está o seu túmulo, funcionava como um prostíbulo. Estavaa sendo agora restaurada por causa das comemorações do ano 2000.

FONTE: Arcaprovider