quarta-feira, 3 de novembro de 2010


Lições mais antigas de História contavam que a frota de 13 caravelas de Pedro Álvares Cabral, que deixou Portugal em meados de março de 1500, em direção às Índias, surpreendeu-se com uma terra de vastos arvoredos e um imponente monte, no dia 22 de abril do mesmo ano, há exatamente 510 anos.

No entanto, o anúncio de que navegadores europeus haviam encontrado mais um grande continente do outro lado do Oceano Atlântico, na verdade, foi a oficialização da posse de Portugal sobre as terras que viriam a ser o Brasil.

É consenso atual entre os historiadores brasileiros que a Ilha de Vera Cruz, depois rebatizada de Terra de Santa Cruz, não foi descoberta por acidente pela esquadra de Cabral.

O professor de história Roberto Marcelo Caresia, do Departamento de Educação da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), frisa que os portugueses eram os navegadores mais experientes da época e já exploravam a costa africana desde o início do século 15, inclusive com a realização de diversas expedições extra-oficiais.

“Caso se possa pensar em ‘descoberta por acidente’ do Brasil, ela pode ter acontecido por volta de 1475, e não em 1500, quando (os portugueses) navegavam próximo a uma região do Atlântico com ventos favoráveis a oeste”, afirma Caresia, que é mestre em história cultural.

A frota comandada por Cabral, com 13 caravelas, era a maior já reunida até então. Segundo o professor da UNINOVE, os navegadores zarparam com o objetivo de chegar às Índias. Entretanto, há provas de que o desvio de rota foi proposital para que Portugal tomasse posse das terras já conhecidas.

Tratados e segredos

Caresia lembra que Cristóvão Colombo (foto) havia trabalhado para Portugal por mais de dez anos, antes de oferecer seus serviços à Espanha, por volta de 1490. Quando o navegador retornou das Antilhas, em 1492, ele teve um encontro sigiloso com o rei de Portugal. Logo em seguida, quatro caravelas portuguesas partiram na mesma direção de onde viera Colombo. O professor completa que há vários indícios de que o descobridor da América, na verdade, era um espião trabalhando para Portugal.

Entre 1492 e 1494, foram firmados seis tratados, ou Bulas Papais, até se chegar ao Tratado de Tordesilhas, que dividia as terras “descobertas e por descobrir” fora da Europa entre os reinos de Portugal e Espanha.

Caresia destaca que o principal representante do rei português para a questão dos tratados era o cartógrafo, astrônomo e navegador Duarte Pacheco Pereira. “Reconhece-se hoje, inclusive pela historiografia portuguesa, que ele esteve em viagem sigilosa pelas costas brasileiras em 1498, por meio de seu relato ‘Esmeraldo de Situ Orbis’. O mesmo esteve ainda na frota de Cabral, em 1500, na Tomada Oficial de Posse”, explica o professor.

No entanto, nem mesmo Duarte Pacheco Pereira pode ser considerado o responsável pelo “verdadeiro descobrimento” do Brasil, pois há diversos indícios de que outros exploradores pisaram em terras tupiniquins antes de 1498.

Muito antes dos europeus

“É um tanto constrangedor falar hoje em ‘descobrimento do Brasil’ pelos europeus, quando sabe-se que havia aqui uma imensa população indígena oriunda de outros continentes há milhares de anos”, provoca o professor da UNINOVE.

Ele enumera diversas histórias e lendas de navegadores que exploraram o que havia além do Velho Mundo, de fenícios da Antiguidade e vikings do período medieval a irlandeses e até mesmo chineses, ainda que não tenham deixado nenhuma marca pela América.

“Há relatos muito comprobatórios e controversos de uma expedição chinesa em 1422, mas que também nada fez ou deixou aqui. Espanhóis, com certeza, passaram aqui antes de 1500, e disso há provas, mas também não tomaram posse. Ou seja, eram apenas expedições de exploração, sem intuito de formar colônias, postos avançados ou feitorias, apenas para reconhecimento de território e de rotas navegáveis”, explica Caresia.

“Como havia muita disputa entre Portugal e Espanha, muito disso era em sigilo e extra-oficial, ou seja, com pouca ou nenhuma documentação além de algumas cartas particulares”, completa.

Para o professor de história, não restam dúvidas de que os primeiros habitantes do continente americano foram os povos vindos da Ásia e da Oceania, há milhares de anos. “Se alguém ‘descobriu’ o Brasil, foram, sem dúvida, esses primeiros povos dos quais desconhecemos os nomes, mas seus remanescentes são os vários povos indígenas brasileiros”, finaliza.

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